segunda-feira, 4 de abril de 2011

Meu primeiro dia de aposentado

Fiz um 5S no apartamento, doei os móveis e cacarecos. Não queria nada material para não trazer-me sofrimentos posteriores.

Da papelada fiz uma triagem segregando os de valores fiscais, dos sentimentais.

Aí os arquivei em pastas distintas, sendo que fiz back up para os documentos sentimentais, que além da guarda física ,onde a traça pode corroer, criei localização virtual e especial na mente e no coração onde sómente o Alzheimer pode destruir.

Durante a viagem de Mossoró à Fortaleza senti-me como um pássaro que foge da gaiola, Vinha cantarolando, tentando acompanhar as letras das músicas que o som do carro propagava. Mas, ao mesmo tempo sentia falta da gaiola e do alpiste e dos outros pássaros que fazia parte do meu bando. Neste momento meu carro transformou-se em uma máquina do tempo, as letras da músicas faziam-me viajar para várias eras do meu existir.

Voltei a época da ditadura, passando pela época da colheita no sertão. Curti o cheiro da rapadura e do melaço da cana. Lembrei-me dos primeiros flertes com as meninas da minha escola. Senti o borbulhar da pororoca do rio sergipe com a praia de Nova Atalaia, meu primeiro embarque de barco. Senti a mesma sensação no peito e no estômago que eu senti naquele dia. Lembrei-me também do primeiro vôo de helicóptero, do primeiro passo em uma plataforma de petróleo, do primeiro banho de óleo na PXA-01 na troca de uma Bomba Hidráulica, da vez que fui lavar o WC da plataforma PEP-01 com a mangueira de incêndio e um jato de dejeto maquiou o meu rosto deixando-me bem perfumado e enojado.

Voei ate a minha meninice onde eu fazia presepadas e viajei para o futuro, imaginando-me como eu seria e como estaria. Vi coisas ótimas como também senti as dores da saudade, do esquecimento, do afastamento, e as dores do corpo e da alma. Foram tantas recordações e emoções como diria o meu amigo Roberto Carlos.

Nesta viagem passou o meu filme, onde eu era autor, ator, diretor, roteirista, coadjuvante. Mas confesso um péssimo roteirista, pois não seguia uma seqüência cronológica dos fatos. Mas quem disse que todo filme tem que ser biográfico sobre a linha do tempo?

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