João Gordinho

Sou um homem velho, não pela idade, mas pelo estrago que a vida me fez. Tenho apenas cincoenta e dois anos nestes lombos queimados pelo sol causticante. Sou casado com uma mulher feia , porém fiel. Meus seis filhos esperam de mim um futuro melhor que o meu presente. Mas isso parece impossível. Saio de casa diariamente as cinco da matina de Jucurí onde moro. Fico a esperar carona na estrada para ir ao trabalho. A fábrica de cimento me acolhe as sete . Ë lá que eu esqueço os problemas da vida, enquanto carrego as carretas que levam este cimento para outros estados. Meus colegas me chamam pelo apelido de João Gordinho, mas, meu nome mesmo é João Mendonça da Silva, o seu criado. Fico matutando, qual será o futuro dos meus meninos. Será que serão jogadores de futebol? Ou serão que nem eu? Sub-empregado ou talvez pior. Se ao menos eu pudesse dar estudo a eles, mas aqui onde moro não tem condição, nem tenho dinheiro. Como eu era feliz ,e nem sabia. Hoje sinto um aperto neste coração velho, mas ao chegar em casa, meus filhos correm para me abraçar, sinto-me o homem mais feliz do mundo. As batidas do meu coração acompanham as badaladas do sino da igrejinha. Acho que é o amor dos meus filhos que me mantém em pé. Tenho a Margarida como companheira , apesar das suas queixas, ela também me faz feliz. Tenho a amizade do seu Tõe o homem da venda. Tão bom quanto o meu velho pai, o qual eu perdi aos quinze anos de idade. Tenho a impressão que Deus esqueceu deste mundo, pois o que vejo, é só injustiça, violência, miséria, prostituição, fome, doença, e Ele onde está que não vê isso? Se eu fosse uma autoridade inverteria a ordem das coisas. Obrigava os ricos a passarem três meses com o salário de fome e os pobres passariam este tempo curtindo as mordomias dos ricos. Quem sabe se assim depois deste período esses homes se é que sobrevivessem , não aprenderiam a lição?